sábado, outubro 22

A Monotonia das Cores

Este blog nasceu da minha necessidade de expor as minhas ideias e deixar expresso por palavras tudo aquilo que me revolta. Tentar dar um pouco de volume aos oprimidos afónicos que berram todos os dias para dizer ao mundo que existem, tornou-se a causa.. Fiel aquilo que eu próprio criei, deixo-vos hoje uma visão realista, dura e fria do que é ser oprimido, do que é ser esquecido, do que é ser posto de lado, baseado em relatos reais de pessoas que me cederam a honra de me explicarem um pouco das suas vidas! Todos nós conhecemos a palavra mas nem todos a sofrem na pele. Eu, ciente da minha responsabilidade e sem nunca, em ocasião alguma, ter sofrido o que os Outros sofrem, decidi escrever sobre o Racismo.. e já vem tarde.
Assistimos com o decorrer da História a um sem número de guerras, de limpezas étnicas e raciais que nos põem a pensar porque razão não nos dividimos todos de vez. Desde Hitler até Milosevic, pasando por grupos pequenos como o KKK, todos eles já tentaram impor a sua lei sobre os diferentes deles próprios. Falharam sempre.
Não estou a escrever para vos dizer que ser racista é mau, que devemos todos viver numa comunidade pacífica e feliz e por aí fora.. isso já vocês o sabem! Estou a escrever apenas para vos lembrar de que eles são bem melhor do que nós.. Nós vivemos.. Eles sobrevivem.. grande diferença!
" São 7:30h da manhã e acordo exaltado. Hoje é segunda-feira e dia de voltar ao Centro de Emprego para ver se consigo finalmente arranjar emprego. Sobrevivo nesta situação há mais de seis meses mas não dou sinais de fraquejar, de desistir. Levanto-me de um pulo e corro para a cozinha afim de preparar o meu pequeno-alomoço, dizendo para mim mesmo que vai ser hoje que vou conseguir um emprego por muito miserável que seja! Saio de casa às 8:15 para apanhar um autocarro que me deixará muito próximo do centro. Estou claramente nervoso e vejo um miudo a atravessar a rua a fumar e pensei logo: vou cravar-lhe um cigarro para ver se me acalmo. Chamo-o, ele levanta a cabeça e volta para o passeio e desata a correr. Terei dito alguma asneira? Não me pareçe.. sei falar bem a lingua portuguesa e tenho a certeza de que as minhas palavras não passaram de um simples e objectivo: Ei, podes arranjar-me um cigarro por favor? Perplexo, atravesso a rua ainda a pensar na reação do puto. Ouço pneus a chiar e olho na direcção oposta. O carro parou a uns meros centimetros das minhas pernas e peço desculpa ao condutor pelo susto que criei visto não estar nem de perto nem de longe na passagem adequada aos peões. O condutor abre o vidro e berra: Para a próxima não paro, preto!! Continuei a caminhar até à paragem de autocarros e vejo uma dezena de pessoas que haviam acabado de assistir ao mesmo que eu. Um deles levanta o olhar e diz-me: Tens de ter cuidado pá, eles falam a sério. A bófia tá a cagar-se pra ti por seres como és! Perguntei-lhe então como é que eu era.. O jovem, que devia ter a mesma idade que a minha, sem nunca tirar os olhos dos meus disse-me apenas: Tu nem és.. Percebi claramente o que ele queria dizer e sorri tristemente. Pedi-lhe a ele um cigarro e desta vez ninguém fugiu. Ficamos a conversar cerca de 5/6 minutos até que o autocarro chegou. Entramos juntos e sentámo-nos ao fundo. Expliquei-lhe para onde ia, contei-lhe as minhas ambições, os meus desejos profissionais. Ele respondeu-me com frases do género: Pá, o racismo..estas pessoas querem lá saber se és melhor do que os outros, por eles nem tinhas cá entrado! Eu espero que consigas arranjar qualquer coisa mas tenta ser um pouco realista.. nunca conseguirás um emprego decente, respeitoso enquanto fores nada para eles. Senti-me agradecido pela frontalidade com que esta pessoa se dirigia a mim mas quanto mais ele falava mais triste e derrotado me sentia.. Chegado ao meu destino, despeço-me do jovem e desço a rua que me falta até ao centro. Entro, tiro a senha e volto a sentar-me. Chega a minha vez e entro numa sala mal iluminada, apresento-me e a pessoa do outro lado da mesa diz-me apenas ao olhar para mim: volta cá amanhã. Hoje não há nada para ti..
E voltei! E voltei a encontrar o jovem do dia anterior. Cumprimentámo-nos e ele questionou-me como é que tinha corrido no centro. Contei-lhe. Ele revirou os olhos e olhou para mim como se dissesse: eu avisei-te! Sentámo-nos no mesmo sítio que no dia anterior mas desta vez ele saiu comigo em direção ao centro. Perguntei-lhe o que é que ele estava a fazer e ele apenas me disse: companhia pá! Pode parecer estranho mas é incrível como ficamos agradecidos por termos companhia ao fim de meio ano sozinhos. Entrei, tirei a senha, aguardamos e chegada a hora entrei. Ao fechar a porta vi que o jovem já havia entrado também! Fiquei embasbacado enquanto que automaticamente fechava a porta. A pessoa do outro lado da mesa diz-me mais uma vez: volta cá amanhã. Hoje não há nada para ti..
O jovem avança para a pessoa e segreda-lhe ao ouvido. Esta levanta-se e sai da sala. No seu lugar estava agora o jovem a rir-se e a mexer nuns papeis que nunca tinha visto. Olha para mim e diz: estás contratado! Começas para a semana, 9:00 em ponto. Não percebi literalmente o que ele queria dizer.. Não me apresentei como deveria diz ele. Sou filho do presidente da empresa para a qual vais trabalhar caso aceites o que te estou a oferecer claro. No entanto, quero deixar bem explicito de que não é por pena que te oferço o emprego. Eu trabalho nessa mesma empresa como Director dos Recusros Humanos e vi mais de 40 candidaturas sendo a tua a melhor. Queres o emprego ou não!? Não sabia o que dizer.. verti uma e apenas uma lágrima e apertei-lhe a mão.
Hoje, junto as minhas funções na empresa e também com um projecto que ainda não nasceu, uma associação que criarei para ajudar os Imigrantes a serem integrados na nova sociedade que os acolhe..a bem ou a mal!"
Porquê? Porquê tanta discrminação? Somos todos diferentes sim! Temos ambições diferentes, temos desejos diferentes mas somos TODOS pessoas..
" Uma maçã é vermelha, o sol é amarelo, o céu azul, uma folha é verde, uma pedra cinzenta, uma nuvem branca.. mas..se te perguntar, consegues dizer-me de que cor é o amor?"
Pois..

(Agradeço a colaboração da minha amiga "Teca" e do actual director comercial da Swisstec deixando os meus mais sinceros votos de que o seu projecto conheça a luz do dia afim de iluminar quem de luz careçe..)

sábado, outubro 15

A voz dos sem-voz

Dia 9 de Outubro foi dia de chamar o povo às urnas para eleger os seus autarcas afim de governarem por mais 4 anos! E o povo lá foi votar no seu candidato preferido, naquele que mais autocolantes ofereceu, assim como gurda-chuvas e bandeiras, incluindo as boas promessas da praxe. Tentei colocar-me a par da situação desde que começou a pré-campanha e aquilo que vi parecia um deja-vú com exactamente 4 anos. Ou seja, tirando as bandeiras, os autocolantes e os guarda-chuvas que até acompanharam as tendências da moda, as promessas mantiveram-se as mesmas: acabar com as desigualdades sociais, criação de novos postos de trabalho bem pagos e duradouros, atrair novos investimentos, saldar as contas das autarquias, resumindo um sem fim de promessas tão bem conhecidas pelo nosso perspicaz povo. Ou não.. Senão veja-se: quando todos os candidatos se comprometem a fazer ou a desfazer o mesmo em quem vamos votar?! E é aí que entram os cartazes enormes com posses de modelo, a publicidade nos media, e claro, os guarda-chuvas, os autocolantes e as bandeiras! Ganha quem mais der, oferecer ou prometer. Só assim consigo perceber os resultados destas eleições, democraticamente ganhas pelo poder do dinheiro porque nem foi nenhum partido que ganhou, já que eles prometeram o mesmo.
Por outro lado, na minha opinião única, a democracia até conseguiu fazer-se ouvir através da voz do povo, servindo assim o seu fim! Houve um número bem elevado de Independentes a vencer. Se assim foi, estes candidatos, sem apoios dos respectivos partidos (ou com alguns...) fizeram uma boa lavagem de imagem e aperaltaram-se para gritar vitória e a dizer que quem manda é o povo! Até seria muito bom não fosse o facto de estes candidatos serem ex-presidentes de câmara, que fizerem obra, mal ou bem feita, em que a maior parte deles fez campanha demasiado mediática e que claro, a maior parte deles encontram-se com uns diferendos com a justiça.
A julgar pelo que vi resta-me questionar.. O povo manda ou o povo é mandado?
Será que o povo tem poder suficiente para mandar, elegendo assim quem está lá com dignidade, seriedade e honradez ou, o povo nunca teve poder para mandar, elegendo quem já lá está por antecipação (leia-se, nomeados), para nada mais do que usufruir dos cofres das autarquias esquecendo por completo a voz silenciosa do povo?
Ou será que o povo já não tem confiança na classe política por erros criados por eles próprios, resumindo-os ao tão badalado: "..são todos iguais.." ?
A ser assim a Revolução de Abril deixou-nos livres para falar mas aprisionados nesta classe surda que todos os dias prova não ser merecedora do voto de um português.
Estará na hora de uma nova revolução? Já sabem a minha resposta..

sábado, outubro 8

Educação para endinheirados

Como gostei de ver as portas do ISEP fechadas no dia 26 de Setembro! Bela forma de protesto perante a subida abrupta das propinas, perante o contínuo desrespeito por quem lá estuda e mais importante, por quem trabalha diariamente para dar aos seus filhos um futuro melhor. Estamos em Portugal, país que suporta, a meu ver duas classes sociais.. os endinheirados e os Outros. Os endinheirados podem com toda a certeza oferecer aos seus uma educação de prestígio que lhes permita um dia serem "alguém" na vida. Tanto podem pagar 800€ de propinas como podem pagar ainda mais caso seja necessário. Quanto aos Outros? Bem, os Outros estão fora deste sistema que deveria ser igual para todos.. Um governo que se preze não deveria assumir a educação do seu povo como forma prioritária para o sucesso do país?! Pois..mas os governos são governados pelos endinheirados! São esses endinheirados que recebem salários exorbitantes e que, claro está,conseguem colocar os seus filhos em instituições de ensino como é o caso do ISEP. A educação estará a caminho de pertencer apenas a classes elitistas? Assim me parece...
Se assumirmos que um país para ter um futuro, na verdadeira ascensão da palavra, tem de ter um povo capaz de ultrapassar desafios constantes, se assumirmos que é a partir da educação que se prepara um povo para esses mesmos desafios, será muito rebuscado assumirmos que a educação deveria ser um direito e não um luxo? Não terá o mesmo direito de chamar a si um desafio benéfico para o país, uma criança de um bairro?? Teremos mesmo de assumir que só os endinheirados é que podem dominar o futuro do país?? Se assim for para que servem os Outros? Para receber o guarda-chuva e acenar uma bandeira aquando das campanhas eleitorais?!
Não! Teremos sim de assumir que a educação é um direito ganho à nascença, sejamos pobres ou ricos! Se é um direito ganho não deverá ser pago!
Os governos não deveriam ser formados por homens e mulheres do povo, votados pelo povo, para assegurar um futuro para o povo?!
Eu não quero pagar para ter um futuro... quero que me seja garantido como direito adquirido!