Não tenho por norma repetir temas, cujas bases estão aqui colocadas para toda a gente ler, mas hoje tenho mesmo de me repetir e por obra do destino, repito o último tema. Fiquei imensamente deliciado com a minha perplexidade ao ler o editorial da revista Sábado N.º 103 pois deu-me a entender que não sou o único a achar tamanha estupidez a tragédia do malogrado actor na noite Páscoa. É uma revista que leio assiduamente por gosto e pela admiração do trabalho de todos os envolvidos. No entanto algum dia teria de os criticar embora não julgasse que o fosse fazer pelas seguintes situações.
A respeitada direcção desta revista diz e passo a citar com letras: "Por muito que isso custe a algumas mentes empoeiradas, a morte do actor Francisco Adam não é estatística, não é menor e não é indiferente. A reacção elitista e superior da comunicação social - que chegou a classificar a tragédia como apenas mais um dos oito acidentes mortais ocorridos até domingo - tradicionalmente esquece fenómenos populares e sociais relevantes. Tratar o acontecimento com desprezo é ignorar a importância que a série tem na vida dos telespectadores, principalmente tratando-se de jovens em idade de formação." O direito de opinião está assegurado.. o da minha crítica também.
Segundo a direcção desta revista semanal, os jovens portugueses estão presos à serie Morangos com Açucar e a sua formação cívica é feita pelos actores ou seja não precisamos de pais nem dos professores, nem de amas secas ou das vizinhas do lado. A Sábado não pertençe à comunicação social elitista e até aí concordo plenamente, perdendo-me no entanto no facto de na mesma capa da revista se poder ler "Os planos de Maria Cavaco Silva em Belém". Eu corri avidamente para a pág.52 da revista não elitista e pude ler toda uma lista de intenções da nossa Primeira Dama. Fiquei bastante contente por não estar a ler a Maria ou a Nova Gente porque decerto que nessas revistas elitistas não ficaria a saber que o seu gabinete ainda não foi redecorado nem tampouco que é ela que escolhe as gravatas do nosso Presidente da República. Pouco elitista e ainda bem. No entanto aquilo que deveras me surprendeu foi o facto de, continuando a ler o editorial, a direcção escrever que quem não perceber que a morte do actor foi uma tragédia (foi de facto, como mais 8 pessoas nesse dia..) é "viver dentro de uma redoma". Fiquei espantado, mas não desisti de procurar a razão pela qual a direcção da revista achar que pessoas como eu vivem em redomas. A resposta descobria-a na pág. 46 onde se pode ler o seguinte num quadro:
" O que a série ensina". Fiquei então a saber que vivo numa redoma, julgo eu de vidro, porque não uso linguagem como "não sejas cortes" ou "vamos dar um giro", que não uso bónes nem casacos curtos embora use calças largas (antes de haver Morangos com Açucar..) mas acima de tudo fiquei a saber que a minha vida tem sido extremamente protegida dos males do mundo já que, como vivo numa redoma de vidro, não fui obrigado a ver as coreografias da banda D'Zrt nem sequer a sabê-las.
No fundo, no fundo a minha sorte é ter aprendido a partir coisas..como redomas de vidro! É que mal posso esperar por não prestar atenção a este mundo e aos seus desafios constantes mas sim, ouvir D'Zrt e berrar, enquanto coloco o meu boné: "Não sejas cortes!"..
